MEU POEMA
Neumar
Monteiro
Meu poema é feito de
suor
e de lágrimas.
Suor, de um povo
incompreendido
e explorado.
Lágrimas de exaustão
e
sangue.
Dos alfarrábios
escorem leis,
leis que não dizem
nada de hoje.
Só leis. Distantes e
sufocadas
em papéis carcomidos
pelo tempo.
Meu poema é feito de
barro
amassado com suor e o
sangue dos oleiros.
É um poema triste,
frio e sem sonhos.
Como modelar belezas
sobre
a podridão das
fossas?
Como cantar canções
de musas
para ouvidos moucos?
Meu poema é a voz
dos sepultados e dos
calados.
Canto de além-túmulo
e dos braços
cadavéricos.
Canto dos que morrem
a cada dia
semeando e cavando o
trigo.
Mas é preciso cantar!
Antes que a garganta
seque,
com a poeira das
fábricas,
e o som morra.
É preciso cantar o
tudo ou o nada,
não importa.
O importante é
escrever poemas
e morrer cantando.
Nenhum comentário:
Postar um comentário