sábado, 14 de maio de 2011

O NORTE FLUMINENSE - 13 de maio 2011

O HOMEM DA ARQUIBANCADA
                               
                                     Neumar Monteiro

                                   Estava triste aquele homem na arquibancada do circo como um curió molhado: sem pio e sem regalo. Talvez rememorasse vestígios do passado ou remexesse cinzas há muito desaquecidas. Estava triste aquele homem... Nem o palhaço, a fazer momices, conseguiu arrancar um mínimo de satisfação. O tempo dos sorrisos havia passado.
                                  O tempo, temporão, temporal, como um esguicho de água estraga todos os prazeres: O paladar esmorece, o corpo adormece e a vida estremece como passear no presente com a memória no passado. Dias de frios encantos e de olhar o horizonte com vontade de expandir-se sem conseguir fazê-lo.
                                 O homem da arquibancada esqueceu-se de aplaudir a bailarina e os cavalos bretões; não viu o palhaço nem o trapezista; quedou-se na lembrança de outros circos vistos em colorido. Agora, em preto e branco, não lhe atraía a atenção.
                            A vida é fonte infinita de satisfação, basta que se saiba apreciá-la pelo lado bom. O manancial é vasto e as oportunidades aparecem... Só esperá-las na próxima esquina, porque a vida se renova constantemente. O homem da arquibancada olha o futuro com olhos do ontem. Não pensa que o futuro já chegou e que, no passar deste instante, já será um novo minuto e outra oportunidade. Não se volta para traz, nem se faz no amanhã o que se passa hoje; o que se foi são águas já tragadas pelas aluviões dos nossos passos.
                            Infelizmente, tantas tragédias nestes tempos de agora: professores espancados por alunos, como aconteceu com o mestre Kássio Vinícius Castro Gomes, que pagou com sua vida, com seu futuro e com o futuro de sua esposa e filhas por conta de uma brutalidade irracional da atualidade. Estupidez humana, epidêmica, travestida de novos paradigmas quais: o bandido é vítima da sociedade; que intelectual é coisa de efeminado; criticar é modernidade e, estudar, é perda de tempo; aplicar prova difícil não prova nada, só traumatiza o aluno; bater também não pode: a justiça penaliza o professor. Tristes dias atuais!... Tempos de assombrações e medo, de revides; de espancamento de professores; de drogas consumidas em frente de igrejas, cadeias, escolas; dias de genocídios, terrorismos, nudismos nos carnavais e bacanais. Lógica perversa por trás da asquerosa escalada!  
                             O futuro bate à porta de todos nós, infelizmente nos deparamos com tempos mais cruéis que os do passado. Muda-se a roupa, mas não se muda o coração; troca-se de cara, mas não o caráter. As inovações do hoje, em todas as áreas, abrangem um universo nunca dantes explorado. Temos tudo para viver mais, para mudar conceitos, para estudar o infinito, vasculhar o espaço, criar paradigmas, enfrentar o mundo, ser sábios, teólogos, artistas ou autodidatas, mas, um coração fechado para a humanidade é como jogar pérolas para os porcos.          

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