sexta-feira, 27 de maio de 2011

O NORTE FLUMINENSE - 07/2006

CAMISA VOLTA AO MUNDO 
                                                                                                  Neumar Monteiro

Interessante era a “Camisa Volta ao Mundo”, usada na década de 60 pelos rapazes. Uma mistura de fibra sintética com viscose, meio embaçada, às vezes transparente, que fazia a cabeça dos antenados com a moda, conforme diziam: uma coisa “entisiospética”, “encrisocrítica” ou “escalafobética”, expressões, de sentido ignorado, usadas pelos jovens. Enfim, uma “brasa mora”.
Acompanhando a charmosa camisa, um sapato plataforma ou botinha com salto carrapeta, com biqueira de metal no solado, brilhantina no cabelo e um “chuca” puxado na testa. As calças eram saint tropez coladas até o joelho e boca-de-sino, cobrindo o sapato; ou calça Lee, importada, que poucos podiam ter. O sonho de todo rapaz era, sem dúvida, imitar o Elvis Presley, apelando para o indefectível topete na ânsia de igualar-se ao ídolo.
No contexto, as meninas sonhavam imitando Catherine Deneuve, Twiggy, Sandra Dee e Brigitte Bardot, com vestidos trapézios, tubinho preto e branco ou de looks futuristas, conforme ditavam Yves Saint Laurent e Courrèges. Olhos pintados de preto, cabelos longos e franjas, acompanhados de gola rolê, buclê, banlon, cachemere, babados, calça cigarrete, botas de verniz e cintos bordados de candurinha ou candurão.
Naqueles dias o comércio de Bom Jesus era acanhado em quantidade, mas reconhecido pela qualidade superior de seus produtos. Havia, para a época, uma variedade boa de lojas de tecidos, armarinho, casa de enxoval, presentes, aviamentos, armazéns, selaria, alfaiataria e miudezas em geral que serviam às duas Bom Jesus e adjacências. Podemos citar, das que me recordo: Turcos da Cabeça Branca, Gráfica Guttenberg, Magazine Salim Antonio, Loja do Ernani, José Eid, Salomão, Alexandre, Daud, Elias Habib, Empório do Zanon, Carlos Neto, Armazém do José Bastos, Casa Kelly, Boutique da Waldélia, A Social , Casa Itaperuna, Irmãos Almeida, Loja da Enid, Real Modas, Selaria do José Urbano, Loja do Temildo, Alfaiatarias do Elias Challoub, Waldemar Moço, Beni, José Raposo e do Godoy. Necessário se faz incluir o Michel da barraca da Festa de Agosto, participante entusiasta da nossa adolescência.
Não podemos esquecer-nos dos tipos populares que viveram em Bom Jesus, que hoje não vemos mais, parte importante da memória cultural de nossa cidade: Lauro Olé, Miquimba, Lili, Alice, Mané Marimbondo, os Glostoras, Puri, Natalzinho, Lé do Cine Monte Líbano, Otto Ferrim e Tibério-  com saudade os recordamos. No carnaval, aplaudíamos o Chico Bifano, Pedrinho Teixeira e Dirceu da Mug, alegres foliões, homens honestos e bons.  
            Lá se foi o tempo do Glauber Rocha, James Dean e Elvis Presley. Também do Oscarito, Mazzaropi, Grande Otelo e tantos outros. Recordar é sempre bom. Sobretudo é aprender e repassar a história. Uma década de transformação, bela e saudável, em que a Praça Governador Portela tinha esculturas nas árvores, podadas, artisticamente, pelas mãos do Papagaio e que recebia o zelo constante do inesquecível seu Sinfronio.  


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