segunda-feira, 1 de agosto de 2011

DEVANEIOS

A  LÁGRIMA
                                      Neumar Monteiro

Na primavera dos meus sonhos mais belos
encontrei-me, um dia, com uma lágrima
e perguntei-lhe enraivecida: 

Por que me persegues? Que queres de mim?
Vai-te embora daqui, que não preciso de ti!
Volta ao lugar de onde vens, pois nesta terra
és temida e odiada por todos .
Esqueça a humanidade!
Quero desta vida somente as alegrias e os risos,
deixa-me, portanto, em paz! 

E a lágrima, sentida, respondeu-me:
Deslizei dos olhos de Cristo no Calvário
quando Ele, expirando na cruz, pediu ao Pai
a redenção dos homens.
SOU REDENTORA! 

Morei nos olhos de Maria, quando ela
chorou pelo seu Santo Filho.
SOU SANTA! 

Beijei a face de Madalena,
no momento em que Ele a perdoou.
SOU SALVAÇÃO! 

Vivo nos olhos felizes das mães
que recebem os filhos pródigos
que regressam ao lar.
SOU PERDÃO! 

Morro a cada dia com a morte e
renasço a toda hora com a vida.
SOU RESSURREIÇÃO! 

Sou o lenitivo da saudade,
o primeiro vagido de quem nasce
e a derradeira emoção do amor.
Sou, também, a tristeza da partida
e a alegria do regresso.
Habito os casebres mais humildes,
misturada ao pó, e os castelos dos nobres,
entre faustos e riquezas.
Estou e estarei sempre presente no homem,
desde Eva até o fim dos tempos! 

Pobre Humanidade, que não entende
a nobreza do pranto! 

Calou-se, enfim, a lágrima sentida.
Calei-me também, comovida e grata.
E minh’alma, aprisionada no sepulcro
de atávicos temores, revivesceu feliz
no pranto libertador e puro
que banhou meu rosto!


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