domingo, 28 de agosto de 2011

O NORTE FLUMINENSE - 11 / 2006


ANTENA COM BOM BRIL 
                                                                                                  Neumar Monteiro 

Tempos atrás, as crianças brincavam de pique-bandeira, chicotinho queimado e roda, enquanto nas calçadas as mães e as vizinhas, sentadas em cadeiras ou bancos, proseavam amenidades. O perfume denso do jasmim e o das rosas pairava sob o céu estrelado. Às vezes, as mulheres levavam bolos e biscoitos, assados em casa, transformando a noite em um divertido piquenique. Época inesquecível.
Com a chegada da televisão, já não havia tempo para o conversar amigo e nem para sentir o aroma do jasmim. Na sala amontoavam-se crianças e adultos frente ao aparelho de TV, então só adquirido pelos mais ricos conforme se falava naqueles dias. Aos pobres cabia chegar de mansinho disputando, com dificuldade, um lugar no cômodo apinhado.
 Na Rua dos Mineiros, atual Gonçalves da Silva, conhecemos a fabulosa telinha na casa do Sr. Filomeno Gomes Pimentel (seu Loló) e Sra. Augusta Dutra Pimentel (dona Nenê), então vizinhos do lado. Que lindeza aquele desfilar de astros que só conhecíamos do rádio! Cauby Peixoto, Marlene, Emilinha Borba e outros. Ali, perto de nós e em preto e branco, os famosos cantores da época.
E as novelas acontecendo dentro da nossa casa? No ar a antiga Tupi, pioneira em emissora de televisão do Brasil, graças à iniciativa do jornalista paraibano Francisco de Assis Chateaubriand. A primeira novela e o primeiro telejornal; a presença de artistas como Tarcísio Meira, Carlos Alberto, Ioná Magalhães, Paulo Gracindo, Paulo Autran e demais elenco de estrelas. Também, programas campeões de audiência: Alô Doçura, Sítio do Pica-pau Amarelo, O Céu é o Limite, Clube dos Artistas e o Repórter Esso - por 18 anos transmitindo notícias. Na Tupi aconteceu o primeiro beijo na boca, na novela “Tua Vida Me Pertence”, na qual Vida Alves deixou-se beijar pelo galã Walter Foster. Também na emissora assistimos, extasiados, a fascinante chegada do homem na lua.
O problema maior da televisão eram os chuviscos e o som de duvidosa qualidade. E haja buchinha de BOM BRIL para colocar na antena. Puxa pra lá e puxa pra cá, sobe no telhado para mexer na antena espinha de peixe: Está bom? E assim? Estão vendo bem? Pegou? O que respondíamos em coro: Um pouquinho pra esquerda... Para a direita... Vira um bocadinho. Quando chovia a televisão não pegava nem com reza forte. Era mesmo assim.
 A evolução dos costumes e da tecnologia foi essencial para o progresso da humanidade. O advento da televisão deu um salto grandioso rumo ao futuro refletido agora, dentre outros, nos avançados computadores que transformaram o mundo numa aldeia global. Um pulo de uma década a outra, e aconteceram coisas que só na imaginação poderíamos prever. A vida ficou mais fácil porque, graças à engenhosidade humana, sabemos dos fatos no momento em que acontecem. As crianças já não cantam as cantigas de roda e as histórias de assombrações, narradas pelos avós nas noites escuras, foram substituídas pelo Freddy Krugger, Frankestein e Poltergeist. Nada mais como antes, tudo igual ao de antes, só mudou a técnica de transmitir. Continuamos como seres humanos, capazes do enternecimento com o belo, de sonhar, sentir e amar. Violência sempre existiu. Pensando bem, nem tudo foi perdido.

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