quarta-feira, 6 de julho de 2011

POEMAS DE NEUMAR

O ACAUÃ
                                       (Do folclore amazonense)
                                     Neumar Monteiro 

Na noite escura,
coalhada de medo,
canta o acauã
agourenta canção
que arrepia a natureza.
Tétrico gargalhar
que enrijece os ossos
e enlouquece a mente. 

Na esteira fria,
a tapuia moça
se contorce alucinadamente.
E gritando e gemendo,
vê a vida esvair-se
como areia escorrendo
por entre os dedos. 

Lá fora a noite se prolonga
sombreando os prados
de fantasmas.
A gargalhada ecoa
assustadoramente.
Em cada olhar o terror,
em cada boca uma prece. 

E o acauã ronda a presa,
qual abutre espreitando a morte.
Depois, a paz retorna,
despertando do maligno encanto
a tapuia jovem.
O ar cheirando à vida,
expulsa o fétido odor da morte. 

Cala-se, afinal,
a ave agoureira.
Emudeceram-se as preces...
E a natureza volta a dormir,
indolentemente,
no seu leito de relvas!



.

Nenhum comentário:

Postar um comentário