terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

A FALA RICA DO POVO - NF  03 - 2010

                                                            Neumar Monteir

                                           

Devagar também é pressa, mas afobado come cru; quem brinca com fogo amanhece queimado, mas cobra que não anda não engole sapo. Chuva não quebra osso, mesmo a chuva de verão, dizeres, provérbios e chavões que não se falam mais não.

Tempo que se pede tempo ao tempo que se há perdido; tempo dobrado no tempo de um tempo já consumido... Um linguajar diferente, um jeito de se dizer em épocas já percorridas desgastadas de viver. Herança do avô paterno... Lembrança da avó mineira, numa linguagem fraterna meio chula, meio brejeira.

Neologismos, metáforas e ditados; implicâncias e diversões, um falar que aprendemos no tempo de Dom João Charuto, tempo do onça, em que se amarrava cachorro com linguiça. Tempos bicudos quando a melhor diversão era ir plantar batatas, entrar na roça com o pé direito e está com o bicho-carpinteiro por meter-se em camisa de onze varas. O Brasil, ainda, não tinha letreiro na testa, às vezes uma Maria vai com as outras copiando o trajar dos ricos. Agora tudo imita tudo, para inglês ver! A nossa brasilidade e a força de valorização da nossa origem foram para o brejo. Adeus expressões coloquiais de outros carnavais!...

Sem eira e nem beira, muito pobre, na miséria, o dinheiro era difícil e todo mundo exclamava: será o Benedito? Qual a hora de a onça beber água? A hora não chegava... Não bobeia que jacaré te abraça... Não vem de garfo, que hoje é sopa... Farinha pouca, meu pirão primeiro!

Havia também a hora de uma felicidade invejosa, pois todos sabiam que a alegria do palhaço é ver o circo pegar fogo, porque a batata de alguém está assando e a barra está pesada; também já ser hora da cobra fumar, porque a corda sempre arrebenta do lado mais fraco e, a essa altura do campeonato, a conversa ainda não chegou na cozinha;  também, porque a dondoca pertence à fina flor da sociedade e cavalo selado só passa uma vez. Frases que justificavam os ciúmes, tramoias e as perseguições juvenis.

Ainda bem que a necessidade ensina o sapo a pular e a montanha parir um rato. Felizmente a noite é uma criança, enquanto a vida passou a mil por hora à moda vamos embora. Veio o futuro: grosso modo é hora de a jiripoca piar que a maré não está para peixe e, a vida, a peso de ouro. Também é oportuno raspar o tacho, deixar a poeira baixar, pois é useiro e vezeiro que a pressa é inimiga da perfeição e chegar ao futuro é a salvação da lavoura, até a vaca ir para o brejo, sabendo-se que a vida é como rapadura, por um lado doce e por outro é dura... A fala popular é mesmo um potencial inesgotável de cultura!...

 

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