sábado, 6 de fevereiro de 2021

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

 AS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ  -  NF 06 - 2010

                                                                                         Neumar Monteiro

                                                                   

            

 Ando muita preocupada com as voltas que o mundo dá, pois o passar do tempo não poupa ninguém e segue um transcurso sinuoso como um rio que desemboca em outro rio que segue para o  mar. O mundo cresceu em ideias e não em amor, sendo o último algo difícil de achar como agulha no palheiro. O que vem depois? Em qual laço a modernidade vai nos aprisionar?

Já vivemos a época dos bailes de debutantes, dos desfiles de candidatas a Miss Brasil, dos namoros nos umbrais das igrejas, do Cine Monte Líbano, das minissaias e dos biquínis de bolinhas imitando a Brigite Bardot. Ultrapassamos, a salvo, o Regime Militar, com suas tropas uniformizadas e ordens de comando; cantamos com Elvis Presley, rezamos como beatos e fomos despachados, pela vida, para este futuro anônimo de identidade. “Ninguém é de Ninguém, na vida tudo passa”... Conforme diziam os mais velhos   imitando o Cauby Peixoto.

Antes, já distante, tínhamos o orgulho de nomear bem alto o nosso sobrenome: sou filha de fulano com beltrano, nasci nas terras dos goytacazes, dos puris, dos solimões ou dos cafundós-do-judas; não importava se rico ou pobre, o que interessava era a estirpe oriunda da nascença de pessoas de bem. Os rumos de hoje são outros, visa-se o dinheiro em detrimento do trabalho, visa-se o conforto para espraiar-se ao sol, enquanto a dignidade corre, às soltas, pelos pampas da indiferença. Fazer o que?

Pagamos um preço para chegar aqui. Quem não chegou aposto que gostaria de ter chegado, como é o caso de muitas pessoas que já não estão conosco. Olhando deste prisma, em particular, acredito piamente que fomos premiados por estarmos nesta terra tão confusa, perigosa e arrogante, mas repleta de belezas que nem correndo coxia poderíamos admirá-las todas. Um vasto espaço de compasso musical que abarca o universo das estrelas às profundezas dos mares, cantando sereias, sibilando as cigarras, rodopiando o vento, levantando as saias, ninando a criança, relampeando as nuvens, trovejando o céu, assobiando o menino e chorando as vítimas do abandono... Tudo é vida! É bom estarmos nela! Importante é plantar a semente, enquanto se pode fazê-lo; colhê-la para saborear o gosto e reparti-la para adoçar o bem viver... O resto pouco acumula, porque as voltas que o mundo dá podem tirar todos os prazeres: num sopro de vento que apaga a vela.     

   

Nenhum comentário:

Postar um comentário