segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

BRINCADEIRA DE RODA- NF    03 - 2011                                                                     

                                                                                        Neumar Monteiro

                                                                      

                                       Hoje quase não vemos crianças brincando de roda. Nestes dias do futuro, dificilmente assistimos os volteios de mãos dadas, as algazarras dos risos e a correria do pique bandeira... Pouco ficou para repassar às gerações futuras de meninos e meninas, só reles apegos ao dinheiro e ao sexo. O que será dessa abrupta mudança futuramente? Pular as fases do amadurecimento humano por certo ocasionará irremediáveis danos ao equilíbrio mental, sem falar nos medos e inseguranças que palmilharão estes caminhos. O ser humano precisa do outro para viver feliz, não daquele distanciamento que alguns perseguem, talvez por egoísmo próprio ou pela petulância de se achar melhor que os demais.

                                           Brinquedos de roda, eterna lembrança, o pulo da corda dos anos criança. Subindo nos galhos, colhendo as pitangas, caquis, cambucás, laranjas e mangas... Doces dias de sol a serem aproveitados nas estradas! Na boca, o trava língua decorado: o doce perguntou pro doce qual é o doce mais doce o doce respondeu pro doce que o doce mais doce é o doce de batata doce. O embornal de pano, a cabeça raspada com navalha por causa dos piolhos, a juventude que armava ciladas por pura implicância, os passeios pelos campos, o jogo de bola, a boneca que falava “mamãe” e as anáguas engomadas com uma mistura de água e maisena – iguais as das artistas de rádio e cinema!...

                                           Um luxo só! As crianças girando quais girassóis humanos, às vezes desumanos, nas canções de roda: ‘atirei o pau no gato, mas o gato não morreu’; ‘a barata diz que mora numa casa de vidraça, é mentira da barata ela mora na fumaça’ e outras como: ‘Terezinha de Jesus de uma queda foi ao chão’; ‘o cravo brigou com a rosa debaixo de uma sacada, o cravo saiu ferido e a rosa despedaçada’; ‘boi da cara preta pega esta criança que tem medo de careta’. De uma maneira ou de outra as músicas excitavam, já naquela época, o bullying, que nada mais é do que a violência contra o mais fraco ou de classe social abaixo do nível permitido no contexto; também violentavam aqueles que apresentassem gagueira, dificuldade na aprendizagem, material escolar inferior, dente cariado, não levasse lanche para a merenda ou os de religiões adversas... Mal da vida, mal do homem!

                                           Atualmente, as antigas canções de roda são condenadas pelos pedagogos, psiquiatras, psicólogos e educadores em geral por incentivarem a violência, o suicídio, a inveja e, também,    discriminações sociais e religiosas. Com certeza no passado foram causas de muitas dores e lágrimas que, infelizmente, até hoje persistem.            

     

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