terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

POEMA DO VENTO - NF    12 - 2010                               

                                                                                                    Neumar Monteiro             

                                                                          

                                        O vento sopra, surpreso, soprano de um trio do espaço: o céu, o sol e a lua. O vento sopra bufando a poesia inacabada, feita de luz e calor, escrita na partitura do universo! Apenas um verso para que o mundo acabe em flores e não em guerra, para que a vida se faça em plenitude no veludo velado da amplidão. O vento desconcerta a multidão que segue vigilante as horas que passam no compasso da espera.

                                Sonhos guardados, o vento sopra como flauta transversa ou trombone de vara; trompete solado na madrugada acordando os vagalumes que, no vento frio, esticam seus voos para ouvir de perto a música da alvorada. O mundo acorda apressado qual foguete no espaço. O tempo tempera a vida na luz em turbilhão, vazada no casebre humilde acordando a solidão.

                                 Dormita a sede de viver na languidez da terra que devora seus filhos: uns mortos nas guerras, outros de fome, enquanto o vento segue o compasso das perdas doridas não sentindo o sentido de tudo que passa. Uma lástima esta natureza que não preza a posse da própria vida.

                                  Segue o céu criando estrelas que se embebedam de luz para clarear a escuridão da noite, para desgosto do sol que queria reinar sozinho no brilho que emana de si mesmo. O vento sopra os sonhos dos homens... Não desiste de fazê-lo! Os sonhos foram feitos para enfeitar as esperanças: de amor e fraternidade entre todos os homens; permissão de dar à luz o filho destinado ao aborto, sem intromissão de lei ou política contrária; que a mentira se transforme em verdade e que haja exclusão, nos cargos públicos, de oportunistas interesseiros que só pensam em si mesmos... O vento é o mensageiro do universo, que vai de lá para cá carregando as novidades: se boas, forte assopra; se ruins, faz-se de bobo dando voltas pelo morro para fugir da conversa.

                                   O vento sopra, surpreendido, a nossa lida. E até na despedida final nos acompanha, soprando o flautim da esperança na vastidão do infinito. O vento, afinal, vazio de si mesmo aquietou a alma de artista para ser o mensageiro de Deus conduzindo os homens! Viaja sozinho pela imensidão do espaço, como um véu de noiva acariciando o piso das igrejas barrocas; ele, mesmo, segreda amores aproximando os enamorados, apagando os lampiões e lambendo as brasas das fogueiras. Apaixonado e sem fadiga, dedica poemas de carinho enquanto sopra a brisa na penosa estrada desta vida.

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