quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

A LÍNGUA VIROU DO AVESSO  -  NF  04 - 2010

                                                             Neumar Monteiro

                                         

Às vezes nos deparamos falando de um jeito esquisito, palavras que foram embora com os anos já transcorridos. A fala foi transformada em moderna algaravia: imitação é genérico, reclame é propaganda; bailinho hoje é balada e, peituda, siliconada. Rádio patrulha é viatura, atlético agora é sarado, hoje fofoca é babado e folhinha calendário.

Era tão bom e chique falar vidro fumê, que agora é insulfilm, antes lycra hoje stretch, antes tristeza, hoje deprê. O nosso professor de ginástica tão esbelto e inteligente virou personal training.

Quanta mudança, meu Deus, abaixo do céu de anil! Namoro é pegação, derrame é AVC, laquê virou spray e barulho agora é auê; professora agora é tia, babosa chama-se aloe vera, fotocópia é xerox e moça madura é ‘véia’. 

Até o recreio da escola virou, nesta época, intervalo; radinho de pilhas é ipod... Como será no futuro se embrulho agora é pacote? Tanta mudança acontece, tantas lembranças apagadas... A  língua virou do avesso que caramba hoje é caraca. Costureira é estilista e senhor é tiozinho, nada disso nos espanta e tudo segue no mansinho.

Tanta gíria, tanto xaveco, cansaço agora é estresse e  médico de senhoras é ginéco. Onde vai parar o moderno neste mundo hodierno que de novidade está farto? Bom mesmo era no passado, que cobra engolia sapo sem tão grande estardalhaço. A vida corria boa: cafona, que hoje é brega; superlegal que é irada; pasta de dente é creme dental; sem falar que o ensino, primário e ginasial, com a nova nomenclatura virou fundamental.

O melhor é ir pra Pasárgada, pois lá sou amiga do rei,

do antigo tempo sumido de poetas e versos bonitos de um mundo que era meu. Não é que os anos passaram e nem saudosismo de velho, o mundo ficou estranho do tamanho do universo e avançou suas tramas, urdidas em noites escuras, fazendo de tudo comércio sem pensar na criatura. O que sobrou para nós outros dos bastidores da história? Lembrando, é bom que se diga, bastidores agora é making off.

Com tanta ultrapassagem naquilo que aprendemos avançamos devagar na roda que move o vento. Se bobear, a gente pimba! Que antes era cair; se paquerar é dar mole, se entrevista é talk-show, se japona agora é jaqueta... Afinal, o que eu sou?

Estas mudanças constantes, desde a década de 70, embaralharam o ditado e derrubaram barreiras, principalmente na linguística e ortografia em geral. Não se nega o crescimento para a língua nacional, mas que a coisa está esquisita não se pode discordar: daqui a algum tempo até o hino da Pátria tem que se modernizar.

 

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