sábado, 20 de fevereiro de 2021

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

SAMBA LELÊ TÁ DOENTE -  NF   02 - 2011

                                               Neumar Monteiro

                                                                            

O Brasil está doente e triste. Não mais aqueles tempos idos, quando a alegria era a norma geral do brasileiro que inaugurava o dia a dia com um sorriso estampado na cara. Agora o riso ficou esquivo e perdeu a espontaneidade; já não se entrega às piadas como antes e, o sorrir, tornou-se um esgar de desencanto. Samba Lelê está com a cabeça quebrada de tantas lutas... O aluguel atrasado, a comida sem quitutes, os anseios sem virtudes e o ânimo desgastado. Samba Lelê está falido dos sonhos que ousou sonhar! Sonha, sonha, sonha, ó Lelê! Não deixe a vida passar.

Mostre a morena bonita como é que se namora:  não lembre a lida da vida dá um beijo e vai embora. Esqueça o salário de fome e esqueça a fome que chora; aposte nas voltas do tempo dá adeus e caia fora. Procure novos talentos para a mente festejar fazendo a vida mais bela, fazendo o vento cantar. Samba Lelê está doente, cansado de pelejar. O casebre à luz de vela e vela para velar a morte de tantos sonhos acalentados ao luar. Samba Lelê é o povo cansado de sonhos sonhar. A revolta lhe invade o peito como ressaca no mar, vem e volta, bate as ondas na maré da preamar.

As casas cravadas nos morros cercadas de outras tantas, até que o vento peleja e a fúria da chuva as arranca.  Os sonhos todos perdidos rolando ladeira abaixo, retratos, móveis e vidas escorregando no barro. Que vida é esta minha gente que persiste nas cidades? Não são quaisquer Sambas Lelês que suportam as adversidades!... Mas continuam ficando nas casinhas dependuradas, tecendo o destino ingrato até outras chuvaradas.     

Samba Lelê faz promessa às forças de Iemanjá. Pede emprego, pede comida, para os filhos sustentar... Samba Lelê precisava é de uma boa lambada. Lambadas que o mundo já dá; olhe morena bonita como é que se namora: põe-se o lencinho no bolso, com as pontinhas de fora. A boca do Samba Lelê quer a modinha cantar, esta modinha de roda que crianças brincam a girar, mas não consegue a alegria no ímpeto de acompanhar. Samba Lelê é o povo triste e desamparado. Samba Lelê é ninguém, apenas um desesperado. Samba, samba, samba, ó Lelê! Na barra da saia ó Lelê! Samba, samba ó Lelê... Não deixe a vida morrer.         

Nenhum comentário:

Postar um comentário