sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

DE MAROLAS A MARIOLAS  - NF  04 - 2009                                  

                                                                                                    Neumar Monteiro      

                                                                        

                                   De marola, marolinha e marolão chegamos ao   outono. O Presidente Lula deve estar feliz, porque a presunção é que ninguém se afogou em marolas da crise econômica. Pelo menos é o que ele quer que seja. Será?

                                   A paisagem do outono remete-nos a um filme em preto e branco que nem o amarelo-avermelhado das folhas consegue colorir. Carlitos gira a bengala num cinema de bairro parecendo dizer: já viu esta película antes? Tantos dissabores o povo brasileiro já passou que, felizmente, não será uma crise econômica que vai derrubar a Pátria amada idolatrada salve! salve!   Não é questão de governo, que fique bem claro, o povo, sim, que é forte e calejado, forjado no ferro das intempéries da vida.

                                   As nuvens que encobrem o sol do outono não impedem o brilho dos dias outonais, e a melancolia da estação não sufoca a esperança. Então temos tudo, até Michael Jackson leiloando a sua fortuna em solo americano, conforme noticiou a TV. Quem sonhava que algum dia tal coisa poderia acontecer? Como disse o Dalai Lama “nada fica sempre igual e nada existe realmente. Portanto, as aparências e o vazio existem simultaneamente”.

                                   Mas o tapete de folhas matiza os caminhos… A natureza, vaidosa, teima em exibir suas cores. Só acontece nesta época, o que nos transporta ao revival de pintores famosos; balé “O Lago dos Cisnes”; saxofone na madrugada; Frank Sinatra cantando “My Way”; Ave Maria de “Gounod” e o Saci-Pererê das estórias da vovó. O outono reflete a paz do universo em versos que nos falam à mente, como a “Rua das Rimas” de Guilherme de Almeida.

                                   Breve é o tempo do outono, como transitória é a  vida… Como quente o verão, como frio o inverno e doce a primavera. Assim as marolas vêm e vão imitando o bolero “dois pra lá, dois pra cá” cantado pela inesquecível Elis Regina. As crises aí estão, de marolas a mariolas. Que importa isso quando aprendemos o segredo da sobrevivência? Só não podemos é perder o compasso do passo que embala os nossos dias outoneiros, sob pena de não participar do melhor da festa.

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