segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

PARECE QUE FOI ONTEM - STATUS    7 - 2006

                                                                     Neumar Monteiro

                                                                           

Parece que foi ontem que saíamos a galopar estradas, quando o vento era mais frio e os dias mais amenos. Eram as risadas dos amigos, os ninhos de passarinhos, as balas jujubas e os dentes cariados. Qual criança não os tinha? Parecia moda zanzar por aí exibindo os dentes malcuidados. Culpa da época em que não havia dentistas, ou poucos, em cidades de interior. Chegamos aqui para contar o ontem, para dar o desconto da eterna insatisfação que arde dentro do peito. Tantas dificuldades enfrentadas que restou uma mágoa profunda... E, às vezes, nos acode uma “briga de foice” entre razão e coração.

E pensar que alguém diga que não está feliz tendo todo conforto do século XXI... Parece ironia acreditar em infelicidade nesta época que todos usam a liberdade de expressão a torto e direito. Expressão é bom que se diga que já virou abuso nas músicas de duplo sentido; no acobertamento de falcatruas nas mais elevadas esferas políticas; no extravio de bens do patrimônio público e no abandono da criança sem o incentivo da escola.

Tantos e tantos mendigos frutos da educação deficiente: não sabem escolher, não sabem votar e nem reivindicar seus direitos. Ficam por aí, quais fantasmas de filmes antigos grudados no cine Monte Líbano e no cine São Geraldo, embora os mesmos já tenham fechado suas portas. Nem exorcismo dá jeito. 

Antigamente era o embornal no ombro; os livros de segunda mão e cadernos desmanchados folha por folha para servir novamente; era o uniforme apertado ou largo demais que o irmão usara no ano passado; era a banana amassada no bolso para comer no recreio. Mas tudo era tão bom! Havia juventude e idade cronologicamente vivida, sem pular etapas, no desenvolvimento físico-mental. Tudo no tempo certo como as goiabas, mangas e tamarindos, que sabem a época de verter seus frutos.

Não podemos negar que o progresso valeu à pena. Melhor digitar num computador do que catar milho nas antigas máquinas de escrever, mas nem por isso merecem ser esquecidas posto que fazem parte do patrimônio memorial da espécie humana. Se não se levantasse o primeiro homem a caminhar ereto, hoje estaríamos rastejando na Idade da Pedra. Foi preciso determinação para o levante e trabalho para o restante... Só que falhamos na estruturação de nós mesmos para sermos sinceros para sermos inteiros... Não este ser fragmentado que ludibria o outro, que mata rindo, que trai para lucrar e caça para maltratar.

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